3 de novembro de 2014



                             INVISÍVEL

Ontem eu faltei, não apareci mesmo. Todos ficaram desesperados, xingando, me maldiziam, até nomes grotescos eu levei. As pessoas, diria, o ser humano em geral, provoca suas perturbações, faz tudo errado, depois culpa aquela que menos deve, aquela que não tem culpa nenhuma. Quantas vezes eu até ajudei. Até nos filmes pornôs que eles assistem, eu participo, por isso conseguem excitar-se quando já estão pelados. É muito insólito, mas sempre estou ali. Ninguém me vê; esquento até um pouco dentro do meu aconchego, vendo as poses, as formas, os gestos, os gritos. Eles não me veem. Eu os vejo, ainda ajudo naquilo que posso. Depois eles saem nus, vão ao banheiro, ligam o chuveiro, eu até aqueço, nem me percebem. Não dão a mínima para mim. Estou sempre ali. Não fico constrangida; preconceito então passa longe. Só observo, vejo com curiosidade, dou risadas baixas, fracas, eles não podem me escutar. Depois do banheiro, vão a cozinha. Ainda estão pelados. Lá é que é a perdição. Tudo tem ali. Eu estou em todos os cantos, em lugares escondida, vejo tudo e espio. Sabe porque sou maltratada, vilipendiada, escorraçada, muitas vezes que falto? Sou essencial, aquela que não pode deixar de estar ali. Sou uma benesse,outras sou amaldiçoada. Sou a eletricidade! Quando falto é um transtorno, um Deus nos acuda! Nessas horas só fico vendo o rebuliço, quando não volto por força nenhuma!...

Autoria= Gino Marson           31/10/2014     17:58

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