30 de novembro de 2017




                         SILÊNCIO

Mudo, calado
Escutava o arfar
Peito falava uma
Linguagem estranha, sofrida
Mulher bem em frente
Olhava, observava,
Calada, lágrimas saiam
Mornas, poucas, calculadas
O dinheiro não tinha,
Faltava, o emprego, o trabalho
O filho comia, mal, pouco
A escola tinha
Repartia, muitos precisavam
O feijão contado
Caia na vasilha de metal
Velha, de muito atrás ganhara
Velho não cozinhava
O cachorro nem se fala
Chorava com rebeldia
Tudo pairava, tudo
Do nada se construia
Não era a morte, nem o fim
Amanhã seria menos ruim
Amanhã, até Deus
Vai se lembrar de mim
A vida não cessa
Apenas um momento
Só um momento
Tudo passa, tudo passa
Até o tempo sem fim
Lembrar-se-a de mim
Arrumo uma trouxa
Muito pouca roupa
Mudo, caminhando aos poucos
Mudarei os que caminham
Caminhando comigo, com ele
Juntos mudaremos
O mundo!..

Autoria= Gino Marson     24/11/2017   1:26

10 de novembro de 2017



                            QUE FAZER?

Pensamos mais do que agimos. De forma inusitada, agimos muitas vezes mais com nossas vontades momentâneas, sem refletir profundamente. Nos jogamos por assim dizer, nos atiramos de cabeça naquilo que dá vontade. Os outros não nos importa. Assustamos até com nossas atitudes. Isso aconteceu com Genival. Veio de uma região longínqua, não teve muita informação; procurava progredir. Era matuto do agreste. Cabra arretado, bicho macho da mulesta, esses que querem vencer, aprimorar-se com a vida, aprender com ela. Estava aqui na grande cidade a muito tempo. Não conhecia o litoral. Até as praias lhe pareciam um mistério. Na sua terra natal não teve oportunidade  de conhecê-las, embora elas fossem em abundância. Uma amiga o convidou para esse passeio maravilhoso. Era sua chance vital, ver o mar, tocá-lo com seus olhos, seu pensamento. Senti-lo bem de perto, pisar sua areia, provar de sua salinidade. Foi pela primeira vez. A viagem até que durou pouco, foi curta. Logo chegou. Um prédio muito bonito, apesar de sua idade. Bem defronte a praia. Mas o inédito sempre acontece, para todos um dia na vida. Perdeu-se, não lembrava o andar, nem sequer o número do apartamento, estava confuso. O cachorro que o acompanhava ficou amarrado também, como ele se sentia, lá em baixo, só, Genival amarrado em suas dúvidas. Tentou soltar o cachorro para subirem juntos, foi mordido. Primeiro revés. Seu pensamento trancou, parecia não funcionar. Resolveu subir sozinho. Pior... Seu pensamento o traiu. Não lembrava o andar. Acho que era o décimo... Lá foi, tentou descobrir o número do apartamento; erro crasso, a memória o atraiçoou. Assustou a todos naquele andar, até uma senhora de setenta anos, por sinal sua idade.
Aterrorizou, na inocência do seu procurar. Houve muita reclamação até ser resgatado. O velho Genival, esvaindo-se em sangue, os dedos mordidos por um canino, perdido no pátio, pois já havia descido. Quase uma tragédia, se não fosse cômico seu comportamento. Como é que pode vir de tão longe, viver na cidade grande, aprender a trabalhar, ser um cidadão respeitado, cair na armadilha da memória, falso pensamento, justamente no seu mais lindo passeio. A praia, o mar, continuou plácido, singelo, como ele encontrou, sua única experiência, mais esperada, na singeleza do seu ser, seu coração bom, sua alma pura...

Autoria= Gino Marson     02/11/2017   15:13