18 de março de 2015

 
 
 
 
                  BURACOS
 
 
Um casal de amigos, estavam conversando, alguns diriam filosofando. Ele perguntou a ela:
--- O que você acha dos buracos humanos?
Ela muito prática, racional, respondeu a sua maneira, sem pensar muito, de súbito, de forma natural:
--- Os buracos humanos, dos animais também, são a maior fonte de prazer e desprazer, onde temos os maiores gozos, nossos êxtases... Sentimos prazer e desprazer pelos buracos. Veja os olhos; não são a primeira vista dois buracos, se empurrarmos, não precisa muita força, eles irão para dentro, formando dois buracos.
--- Que tem a ver isso? E dai? Que fazem os olhos?
--- Eles enxergam maravilhas na natureza, deleitam-se com o belo, choram de alegria, arregalam-se com o bem feito. Um belo e saboroso prato, uma obra de arte, uma criança correndo no parque, um jantar esfumaçante, vendo o passarinho que canta. Outras vezes, chora pela morte do ente querido; não mais voltará, vê a guerra que mata e destrói, o trabalhador assassinado, a jovem estuprada, o bebe chorando pela judiação, o velhinho que cai de pernas fracas.
--- Agora, os buracos do nariz, cheiram tudo. O prazer de um bom perfume, o cheiro de uma mulher, de um homem que acabou de tomar banho, na hora do sexo, o perfume inebriante que sai do corpo, penetra nos sentidos todos, excita até os buracos mais inferiores. Cheiram a refeição quentinha, um sabor de carinho, de mãos que preparam, pelo amor que lhe dedicam. Cheiram o perfume da primavera que chega, alegram a todos, até os entes queridos. Há o cheiro podre, do incêndio, queimado, do jantar na cozinha, do azedo, na hora do amor, pelo desamor, aquele que não se lavou bem, repugna numa hora tão íntima. O desprazer também vem pelos buracos do nariz...
--- Os ouvidos, escutam belas músicas, belas palavras, sempre benditas, sons que alegram, preenchem, nos dá sorriso, pelo outro buraco; a boca de quem ouvimos belas frases, ditas com amor, ternura, abençoadas de todos os dias. A poesia nos soa como bálsamo, falada com voz terna, firme. De outro lado, ouvimos discussões, palavrões, sons muito altos, barulhos ensurdecedores, brigas pela razão, bombas de guerra caindo, explodindo nos ouvidos doloridos...
--- A boca, um belo buraco, grande em alguns, pequeno em outros, comentada por essa virtude. O sorriso nos oferece, um premio todos os dias, especial no ser humano, sinal de alegria. No almoço, jantar, quanto prazer, ainda ajudada pelas narinas mais acima. Prazer múltiplo quando vem algo que se gosta, principalmente a sobremesa, quantas iguarias. Até o azedo aceito com galhardia. No sexo, o oral, não aquele que se conversa, apesar de ser pela boca, é muito prazeroso, muita doação, por quem de verdade se ama. O difícil é tomar por ela  um veneno, aquele que nos finda, um soco, daqueles que humilha. O podre, nem se fala, é cuspido logo em seguida, o azedume que se solta, ofendendo outro, desdizendo para rebaixar... Tudo desprazer; o buraco que o diga, solta o verbo, expele, depois, no outro dia, pede perdão; usou o buraco num mal dia.
--- Agora sim, vem o buraco mais embaixo, poucos dão tamanha importância, mas a serventia que o diga. Puro prazer; os dois. O que fica mais na frente, no homem tem um pequeno orifício, mas se ele enfiar em certos lugares... Ah! Quanta alegria. Na hora que ele arrota, nem se fala. Vai-se ao céu, a Marte, viaja-se no infinito. Uma jornada que não se explica. Sente-se uma enorme tranquilidade, um desafogo depois que mija. Agora, se estiver ardente, uma enorme cistite, quando for ao banheiro, não sair nada, não puder colocar em outro buraco, vem logo a agonia. Na mulher, é lindo; um desenho divinal, existe, bem mesmo, pois até pode dar cria. Não aparece logo, pois coberto que está é segredo, os pelos pequenos o protegem, nem por isso tem êxtase menor na alegria. Esse buraco de que falo agora, também tenho, pois dele muito preciso. por ele dou vida, expulso-a pra que viva. O prazer que tenho com ele, igual é do homem, embora não se compara, cada um tem suas diferentes sensações. Nele não dá a luz mas me faz enorme companhia. Quando sinto as dores, não urino direito, uma infecção me aflige, sinto muito desprazer por ele, até que passa, vindo só sorrisos, meu amado me toma, com ele, apesar das dores, viajo longe, no espaço, esqueço a amargura...
--- Agora, por último, os buracos de trás, como eu, ele também tem. Podemos usar também para sexo, uma sensação muito boa. Àquela quando se vai ao sanitário, uma grande dor de barriga, alivia-se, mesmo quando se comeu jabuticaba com caroço, uma puta satisfação, indescritível. Outras ocasiões, quando o cu faz greve, minha nossa!...Não funciona por força nenhuma, ai é dolorido. Só tem uma solução; laxante, comida leve, muito leite, água, esperar que a natureza diga, sua última palavra; o cu dizer bem alto e em bom som: Em todos os órgãos do corpo eu sou o chefe, eu é que mando!... Se eu fizer greve, vai ser um transtorno, uma gritaria, não me deixem nervoso, me respeitem, quero reverência todo dia!...
--- Como vê, e ouviste meu amigo, os nossos buracos, todos eles, nos dão prazer e desprazer enormes, por isso eles tem uma importância especial para nós. Pode ser uma filosofia, um papo sem refinamentos. É a realidade, somos feitos com muitos buracos. Na vida real, de todo dia, quando estamos no buraco, meu Deus, me acuda!...
 
Autoria= Gino Marson           14/03/2015       18:01

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