24 de agosto de 2014




            
                    Mãeeee

Mãe, ainda bem que poderás saber, sobre alguns sentimentos que não pude falar em outras ocasiões. Quando eu era muito pequena, por motivos que podem ser culpa de nós duas, não conversávamos muito. Furtei-me de sentir por completo o calor do seu amor. Estavas atarefada com os afazeres diários, preocupada com o bem estar de meu pai, embora eu não sentisse isso, esperando sempre umas migalhas para mim. Não reclamo de tudo, a vida bucólica da fazenda, com minhas bonecas, meu pequenos e improvisados brinquedos, preenchiam a vida pacata daquela menina franzina, esperta, fazendo reboliço por todo lugar que passava. Os dias passavam rápidos, quase não senti, logo depois, já me foi apresentada a vida dura, severa, na minha adolescência. Quase não percebi passar. De repente estava desfilando, cheia de trejeitos, fazendo encantar os rapazes de minha idade. Mãeee!... Quantas vezes em silêncio chamei por você. Não me ouvia, já estava longe. Me deixaste em mãos alheias, desconhecidas. Eles não me amavam como você!. Chorei sozinha, muitas vezes!... Nunca te esqueci!... Ainda eras a minha referência, o que na verdade  não tive. Não te culpo... Pode ficar tranquila. Eram tempos difíceis, bem sei.
Abandonada, eu me senti em muitos momentos. Outros, o abandono foi maior, com a falta do seu carinho. Agora que estou bem crescida, esse sentimento está impregnado em mim, penoso de tirá-lo, se confunde com o que sou agora. A experiência de ser mãe, já provei, por isso o ressentimento dentro de mim amenizou. A catarse já consegui, depois de refletir sobre nós. Nossas dificuldades intransponíveis arrefeceram. Sua figura já não me é assustadora. Vejo-a de forma singela, sem remorsos, ainda que sejamos bem diferentes; não na essência, pois estamos em paz, quase curadas desse mal que não se toca, não se vê, não tem forma, está nos nossos crespos; emaranhado, como a vida é em seu curso. 
Mãeeeee!... Não se amofine, durma tranquila, vive sem medo, despreocupe, sou ainda sua filha... Gostaria de falar mais... Poderia tropeçar nas minhas próprias palavras...

Autoria= Gino Marson         13/06/2014                 

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