4 de janeiro de 2012

Che...

                                    Che...

Ele chegou fumando, ofegante, tossia, era madrugada, melhor hora para nos ver, conversar, falar dos sonhos, um dia melhor para nuestros ninos. Escutamos, escutamos, nos dizia:
--- Não somos seus inimigos; os soldados são, o regime é, americanos mais ainda. Se intrometem em todos os países. Falsos moralistas. Querem que todos sejam como eles!...Ajudem, unam-se a nós; seus filhos agradecerão.
Olhei para aquele homem, me parecia abatido, cansado, seus olhos denotavam sinceridade. Lembrei dele, até chorei!... Somos campesinos, pobres, sem perspectiva, mas somos honestos, também filhos da pátria. Olhou para todos nós, um olhar profundo, nunca esqueço... Falou, com voz mansa...
--- Todos querem, um dia, de verdade, ser donos deste país? ---Sim, disseram todos, em uníssono, meio assustados!...
--- Então nos ajude, sejam fiéis, concentrem seus esforços, a hora está chegando. Somos seus irmãos.
Uma mulher, pequenina, com voz muito frágil, lhes disse: --- Caminha com fé, esperança, estamos a seu lado!...
Ele olhou a todos, mais uma vez, com olhar brilhante, sorriu suavemente, percorreu a todos, abanou a cabeça, sinal positivo. Percebi algumas lágrimas, em seus olhos. Era manhã, não podiam ficar por muito tempo, onde estavam, não havia escolas, nem estradas, civilização jamais havia chegado. Perguntou:
--- A estrada?
--- Senhor, não tiene estrada, aqui não há caminhos, nós os fazemos, vá por ali!... Retirou-se, sem dizer nada. Última vez que vi, sua silhueta, lá no fundo, fraco, cheio de fé. Não sabia que era ¨Che¨. Meu Deus, me perdoe!...

Autoria= Gino Marson   06/01/2012            18:23

Nenhum comentário:

Postar um comentário