21 de maio de 2017





                               PEQUENINO

Vou sair sem rumo, sem destino, andando sem um roteiro. Sabe quando se quer esquecer os afazeres, aqueles de obrigação. Vou por ai... Para eu mesmo não achar que este mundo é prisioneiro. Num dia, nem me lembro, no calendário, sei que não era dezembro. Deveria ser outono, aquele friozinho fedorento, batia no rosto, deixava todo vermelho, roxo é verdade, tinhoso não parava. Já tinha dito um dia antes: Amiga Mary, amanhã vou sair, sem rumo, por essas ruas, becos, não importa onde vai dar. Fale os amigos, amigas, o que quiser falar. Sair como aquele mulambento, pouca roupa, sem dinheiro, água vou tomando pelo caminho, como em São Tiago, arrebanhando mais amigos. Não quero nem saber Mary, tudo é nosso, só por o pé na estrada. Não falar nada. É assim, errante; não pedinte, isso é heresia, pegando coisas dos outros sem licença, sem pedir. E foi assim mesmo. Sai, fui andando, caminhando leve, sem pressa... Nem te conto, mas já que falo aqui, fica sabendo. Tinha caminhado muito, muito mesmo. Sei lá onde estava, parecia um perdido, só via, o tempo eu não sabia, nem um relógio eu trazia, só andava, andava; um andrajoso me tornava, todos percebiam. De repente, foi quando vi, encostadinho na mureta, os olhinhos cheios de lágrimas, pequeninos, quase imperceptíveis, e me olhava, fitava mesmo, bem em cima de mim... Era miudinho, magrinho, acho que fome passava. Me aproximei, ai logo também chorei, fazia tempo que não acontecia... Um agrado fui fazendo, passei a mão por ele; encolheu-se não sei se de medo ou frio; logo um sorriso, daqueles que mulher que ama, dá sem nada cobrar, só maneira mesmo de agradar o amado, confortando, mostrando o sentimento farto. E foi assim... Tomei nos braços, nem sei por que? Dei um beijinho, um afago um carinho, todos me olhavam, alguns até com reprimenda... Parece que diziam: Larga, deixa para lá. Vai cuidar da sua vida.Olha para você, nem se cuidar pode... Faz primeiro aquilo que precisa, depois os outros... Mas não foi assim... No meu colo logo ele aconchegou, encolhidinho, dizendo logo que sentia... Segui levando, meus olhos choviam... Muito líquido... Sei lá de onde saiam... Hoje aqui em meu lar, de volta, lógico, a aventura foi calculada, teria seu fim. Passo meus dias cuidando dele, olhando, vendo seu crescimento. Me obedece quando falo. Parece que foi encomendado...É assim o "Miudinho", quase nem late, só faz folguedos, não ataca, só agradece...

Autoria= Gino Marson   14/05/2017      11:10

(Dedico a minha mãe... Apesar de não poder e saber ler, hoje também é seu dia.) 

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