7 de novembro de 2015



                         AMIZADE PURA

Biriba, mulambento, parecia morto.
Quem daria um nome desses a um cachorro. Não era eu, eram os da rua, dele cuidavam e nomearam. Parecia um rei, festejava e cativava a todos. Parece que sorria, tal carinho que dispensava, quando chamado pelo nome, pulava, corria, rolava, até patinava nos seus arrogos. Nunca vi igual, era gente travestida o peludo. Diria na verdade, nem gente tinha tanta alegria junto, num só instante. Há criaturas, vem a esse mundo, testemunhar amor, não esse piegas, falso, mas aquele que não é pegajoso, é bento, suave, nos ensina o que fazer aos outros.
Digo tudo isso, mais um pouco, o Biriba foi me dado, em estado lamentoso; magro, sarnento, os pelos caindo, os ossos a mostra até no dorso. Foi recuperando, sem ir ao doutor, só no carinho, no nutrir, comendo tudo de bom, fora o amor. Fiz sem remorso, quase por impulso, num piscar, ficou recuperado, pronto, uma saúde que dá gosto. Depois que morreu, aquele que tive, lá na infância, picado pela cascavel, salvando-me da morte talvez, nunca se sabe o destino, aquilo que vem aos poucos. 
Biriba, me deixa até louco.  Foge as vezes, no meio dos trovões, amedrontado, volta fazendo festa, sorrindo, latindo, rolando, me dizendo: Não te largo, sou teu, és meu, vamos viver intensamente, sempre assim, neste planeta absurdo, uma vida intensa, amigos para sempre, até que nos separe, um baque surdo, obscuro, uma solidão profunda, escuridão interminável, leve um do outro!...

Autoria= Gino Marson       03/11/2015     10:30

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