9 de agosto de 2015



                     REFLEXÃO  COSMOPOLITA

Ficou viúvo, havia dois anos, uma mulher nova, bonita, desejada. A doença apareceu de surpresa, como um raio, fulminou. Nem a medicina deu jeito. Só um milagre, mas não aconteceu. Eles só acontecem para os pastores, nas religiões que enganam seus fiéis. Mostram-lhes os milagres, como se fossem de verdade, enganam seus seguidores com encenações, artifícios mágicos, onde o dinheiro é o poder, o poder é a opulência, os embustes camuflados, vida de mentiras para viver a riqueza. Agora era ele. A morte já o espreitava, recebeu-a com humildade. Estogumber seu nome de fato. Não era velho, muito menos novo. Meia idade diriam... Morreu numa segunda, dia esquisito para despedir-se dessa deliciosa vida. No velório não foram muitas pessoas. Uns trinta, quarenta, por ai... Desde casado, ainda junto a falecida, pediu para ser enterrado com o seu membro. Roliça chamava, dizia ser, amigo inseparável. Bem no meio das pernas, sempre lá estava. Balançava até se cansarem. Nem tudo na vida pode coincidir, mas se fosse o caso, seria assim. Afinal todos gostavam desse membro especial. Sua falecida mulher, suas filhas, a vizinha do lado. E era grande, cheia de pelos que só. A filha, até ela choraria, quanto mais a mulher se fosse viva. E aconteceu; a morte esperada, tudo em um só dia. O inesperado aconteceu também... Muitos testemunharam. A filha chorava a morte do pai e mais o que se escondia no meio das pernas... Se a cônjuge estivesse viva, tudo seria mais escandaloso. O pranto da garota era uma judiação, um choro plangente, cheio de amor...
--- Que ele se vá, chegou a hora, é determinação divina. Junto levar o que mais gosto, nas pernas, isso não! Não poderei resistir... 
E sobre um ambiente fúnebre, melancólico, lá foi Estogumber levado, com mãos firmes, para ser sepultado. Uma vizinha,  bondosa e compreensiva dizia:
--- Fique triste não, ainda há uma esperança, você pode ainda recuperar a sua preciosidade!..
E foi dito e feito, como um milagre, um filme, não tinha acontecido por duas vezes. A salsicha, como a tratavam as filhas e a mulher carinhosamente, saltou no meio das pernas abertas de Estogumber, esperta, ganindo, latindo, sacudindo o pitoco. Não foi enterrada junto. Era a cachorra compridinha, de estimação. Sofria de catalepsia, estava salva, apesar da debandada do povo que seguia o féretro, caindo por cima dos túmulos, atropelando-se sem nada entender...

Autoria= Gino Marson         08/08/2015         2:24

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