10 de fevereiro de 2015




                             MAGRINHA

Seu nome, lógico, não era magrinha. Naqueles tempos, ser muito magro, parecia doença. Não era seu caso. Hoje não, ser magrinha, quase esquálida, vai muito bem. Valorizam a forma miúda, os ossos bem saltados, se for alta então, quase não aparecem as formas arredondadas. A candidata pode ser uma aspirante a modelo, rainha do Fashion Week.
Me lembro muito bem... Leninha! Era esse mesmo seu nome. Espera...Leninha era um tratamento carinhoso. Seu verdadeiro nome , era  Elena! Haaa!... Como era linda, cheia de trejeitos. Andava quase como numa dança, desfilava, esgueirava-se dentre as pessoas. Deixava os moçoilos arregalados. As pernas juntinhas, as calças compridas bem agarradinhas; parecia-lhe  as dobras da calcinha. Uma loucura diante dos olhares masculinos. Não pense você; olhava para todos com olhar respeitoso, sem malícia. Parecia uma santa. Esperava, isso sim, um espírito compreensivo, sem maiores interesses. Era pobre, não oferecia grandes recompensas. Apenas, e muito importante, a beleza aflorava o seu corpo miúdo. Nada de batons, enfeites, maquiagens extravagantes. Só sua presença era suficiente para brilhar. --- Um pretendente disse-lhe:
--- Será minha, de mais ninguém!
Mas como a vida passa, caminha célere, os sonhos também foram embora; diziam adeus, quem sabe, vou te aguardar. 
Assim foram os dias na fazenda. Uma paisagem bucólica, cheia de novidades, muita energia. Trepava nos pés de fruta, ia colher logo ali, jabuticabas, mangas, pêssegos suculentos e cheirosos. Até os pássaros a entendiam; cantavam todos os dias na sua janela. Os animais silvestres, vinham e faziam festa. Os macaquinhos, as gazelas, os coelhos selvagens saltitando por debaixo dos arvoredos, bem pertinho de sua casa. Quantas vontades visitaram sua cabecinha, seus pensamentos viajavam, enquanto andava descalça por sobre os cascalhos, os pés ardendo as vezes, pois esfriara demais naquela estação invernosa. 
Quantos a queriam? Muitos...Quem sabe? Mas a vida reserva muitas lágrimas, também fartos sorrisos a quem não os recolhe; distribui fartamente aos outros. 
À Leninha estavam reservadas alegrias incontidas. Conseguiria seu homem ideal. Às duras penas, porém viria logo. O tempo não se conta, é infinito, sempre benevolente.
Seu príncipe apareceu, quase do nada, como numa mágica. A menina magrinha, como diziam, realizou suas fantasias. 
Num suspiro longo, esticando os braços, como querendo abraçar o sol; veio iluminando seu quarto, os raios já fortes, brilhavam intensamente, ofuscando seu olhar. Mal podia ver, a luz forte atrapalhava. Acordou do pesadelo da vida, seus projetos, suas vontades. Queria ser mulher, abraçar as dificuldades, despojar-se dos tabus, começar tudo de novo. 
Foi nesse dia, uma voz plangente, cheia de ternura, lhe disse bem baixinho no ouvido:
--- Magrinha! Escalastes muitas árvores, rochedos, nessas montanhas verdes, cheias de mistérios, cheias de água de que és feita, uma criatura muita especial,  valente, ainda encontrarás consigo. A fonte nunca seca, sempre flui a vontade. Solta-se, deixe-se levar pelo mundo. O tempo não se conta, passa apenas, enquanto passamos. Linda!... A vida nunca acaba!...

Autoria= Gino Marson        22/11/2012             15:58

Um comentário:

  1. E lá se foi a Leninha pela vida em busca de aventuras, vivências, trabalho.

    ResponderExcluir