30 de dezembro de 2014



                                  SEM ESCRAVOS

--- Não, Jó da Bíblia... Jô... Uma criatura linda, quase escultural, nada se compara. Seus olhos, brilhantes, denotam a felicidade juvenil; braços longos, a cor do jambo, mostram a sua graça. Um ser de dentro para fora, sutil nos movimentos, escondem ainda mais a beleza. Argumentei: Apesar de toda sua argúcia, como achei natural no Billy, estaria inventando? Seria apenas a impressão? Olha que eu confio no meu amigo Billy!...
--- Ela não tem escravos... Escraviza, isso sim, no olhar, nas formas, no trejeito, andar leve, quase imperceptível. Quando sabe observada, fica mais radiante, um olhar enigmático!...Gostaria muito de ver essa mulher, mataria meu desejo. Não sou muito observador, isso me tolhe muitas vezes, saborear essas belezas de que me fala. Se pudesse, pelo menos, penetrar no íntimo dessa alma. Ha!... Isto é só para os iluminados. Sou apenas mais um. Me ajude a desvendar esse véu, meu pensamento viajar, afinal somos todos humanos não? 
--- Como pode chegar tão perto? De que maneira?
--- E precisa? olha aqui, apontou o dedo para a cabeça; aí pôs as mãos na minha. É mais veloz que a luz, nosso pensamento está aí. Não há limites, nem paredes, obstáculo algum o supera. Quando adoece, deves ficar esperto, pois ele trai mais que mulher desconfiada, é ardiloso...
--- Parece que então viu realmente essa musa? Explique-me!
--- Numa noite, não fazia frio, chovia somente, estava morno, um silêncio quase de morte, tive sorte, quando a luz entrava, feixes miúdos, o suficiente, vi sua silhueta, quase por inteira. Estava com uma roupa íntima, branca, acetinada. Pôs-se a tirá-la, sentia calor, isso sim. Pude ver, apesar da pouca luz, os pelos loiros; os pelinhos das pernas, sua graça era sempre pintá-los, um ritual quase obsessivo, lindo, vaidade talvez, um cuidado feminino. Nesta hora, meu amigo, pude realmente acreditar, maneira cabal, final... A veneziana, a vidraça, quase totalmente fechadas, não impediram, ver algo que não sai do pensamento. Sei que viajarei , como as estrelas que explodem, luz espalhada por todo universo, num percurso sem destino, buscando o imaginário que minha inteligência produz. Tentarei a todo custo, encontrar as ninfas nesta luz; certeza tenho, que as encontrarei, sem igual, enquanto viver, mas nunca como a Jô, estando perto dela aqui...
--- É!... O meu amigo Billy tem razão, estou dizendo por pensar demais, mas vou dizer um pensamento que me passou: Na Bíblia, pode haver uma confusão! A mulher foi feita antes, depois o homem; se assim foi, para haver reprodução. A mulher, um desenho divino, escultural, o homem rebuscado, mais rude, quase barroco. Só assim ele pode dizer, adoro você, linda, querendo sempre mais, mas confirmando a inteligência de Deus!...

Autoria= Gino Marson       30/12/2014             16:36

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