20 de outubro de 2014



                             ANJO

Angélica... Angélica é anjo. Não aqueles das igrejas, dos altares, das capelas, dos monumentos. É de carne e osso, diria até, mais carne que osso. Um doce de criatura, prestativa, solícita, não fala muito. Quando se dirige a alguém, sempre diz: ---Pois não! Agora ou depois... Sim senhor, sempre sim senhor. 
Ha! Mas não sabes! Tudo tem os dois lados. As vezes um áspero, outro liso, suave. O lírio pode nascer no brejo, no entanto é puro, branco, suave, quase sem defeito.
Angélica, um olhar brilhante, sorriso no semblante, os olhos pequenos, pretinhos, fulminantes, quando olha o semelhante. Num certo dia, não sei se o sangue, mais nas veias corria, falou de rompante:
--- Escuta aqui seu moleque! Era o moço a quem se dirigia. --- Escuta bem, não se espante, quero até testemunha dela aqui, fique bem claro: --- Não te dei asa, nem moro,  nem como na sua casa. Sou mulher sensível, não para você, apesar que não desgosto de todo. Se gostasse, diria mesmo, tão lindo você é. 
Angélica, uma flor em botão. Não se engane, isso não. Quando fica esquentada, perde a estribeira, xinga e assopra, qual cobra peçonhenta, sem medir um vocábulo, tudo que for sai, até pelas ventas; transforma-se, veste outra pele, ai de quem nela rele. Apesar de tudo, da esquerda e da direita, eu que observo de forma serena, gostaria, gostaria mesmo, ser atingido pela sua peçonha, cravado pelas suas presas, morrer envenenado, lentamente dizendo: Te amo Angélica, de amor mais fundo, cobrinha peçonhenta...

Autoria=  Gino Marson           2011

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